Mirta Rosenbergé uma poeta argentina, nascida em Rosário a 7 de outubro de 1951. Publicou, entre outros, as coletâneas de poemas Pasajes (1984), Madam (1988), Teoría Sentimental (1994) e El Arte de Perder (1998). Seus poemas foram reunidos no volume El Árbol de Palabras: Obra Reunida 1984 - 2006.
Traduziu do inglês poetas como Gerard Manley Hopkins (1844 - 1889), D.H. Lawrence (1885 - 1930), Marianne Moore (1887 - 1972), Stevie Smith (1902 - 1971) e Anne Sexton (1928 - 1974), entre outros. É uma das mais importantes poetas argentinas vivas. Mirta Rosenberg vive e trabalha em Buenos Aires.
--- Ricardo Domeneck
§
§
POEMA DE MIRTA ROSENBERG
Uma elegia
Na época de minha mãe
as mulheres eram prováveis.
Minha mãe se sentava ao lado de minha avó
e as duas eram totalmente de carne e osso.
Eu sou apenas uma sequela estável
daquele excesso de realidade.
Na ansiedade do passado indistinto,
no aspecto duracional de eleger,
escrevo agora: uma elegia.
Na época de minha mãe
as mulheres eram duradouras,
totalmente osso e carne.
Minha mãe colocava o colar
de prata e turquesas
que meu pai havia trazido da Suécia
e se sentava à mesa como uma espécie exótica,
para que tudo se tornasse maior que a vida,
qualquer ficção fosse possível.
Na época de minha mãe, as mulheres
eram um xis: minha mãe nos contou,
a mim e a meu irmão: "quando saía da escola,
ia buscar meu pai no trabalho,
em Santa Fé, e seus colegas diziam a ele: é um biscuit,
tua filha é um biscuit, e nunca soube o que queriam dizer,
o que era um biscuit", um biscoito estando muito doente,
uma porcelana extravagante mesmo para nós,
e meu irmão perguntando: "E?"
Não sei o que é um biscuit, uma espécie exótica?
algo, de qualquer maneira, especial? Mesmo assim
caminhava delicada pela casa, beirando os oitenta
como se beira uma ferida
com uma gaze.
Na época de minha mãe
as mulheres eram bem visíveis.
Minha mãe se olhava ao espelho
e eu não chegava a abarcar
sua imagem com meus olhos. Me excedia,
a intuía longe como algo de que se tem saudade.
Como agora,
uma elegia.
À criatura adorável
fixada no remoto da foto,
que já aos oito anos parecia
maior que a vida: sinto tua falta,
mesmo não a tendo conhecido. Isso foi antes
que me deras vida
em um tamanho apenas natural.
Mesmo assim,
uma elegia.
E a outra da foto que espero
conservar, a mulher bela que segura
o livro diante da filha de um ano
no engano da leitura:
te amo por aquilo que dura, e é suficiente
ler no presente, mesmo que se tenha apagado
tua estrela.
Por ela,
uma elegia.
Agora sou a fotografia
e tu o líquido revelador. Tua morte
me transforma em eu: como uma ciência aplicada
sou a causa e o efeito,
o teste e o erro, este vazio
do nada que atinge o coração
como casca vazia.
Uma elegia,
cada vez com mais razão.
(tradução de Ricardo Domeneck)
:
Una elegía
Mirta Rosenberg
En la época de mi madre
las mujeres eran probables.
Mi madre se sentaba junto a mi abuela
y las dos eran completamente de carne y hueso.
Yo soy apenas una secuela estable
de aquel exceso de realidad.
Y en la ansiedad del pasado indefinido,
en el aspecto durativo de elegir,
escribo ahora: una elegía.
En la época de mi madre
las mujeres eran perdurables,
completamente hueso y carne.
Mi madre se ponía el collar
de plata y de turquesas
que mi padre le había traído de Suecia
y se sentaba a la mesa como una especia exótica,
para que todo se volviera más grande que la vida,
y cualquier ficción fuera posible.
En la época de mi madre, las mujeres
eran un quid: mi madre nos contó
a mi hermano y a mí: ‘cuando salía de la escuela,
iba a buscar a mi padre al trabajo,
en Santa Fe, y los compañeros le decían es un biscuit,
tu hija es un biscuit, y nunca supe qué querían decir,
qué era un biscuit’, un bizcocho estando muy enferma,
una porcelana exquisita todavía para nosotros,
y mi hermano apurándola: ‘¿Y?’
No sé qué es un biscuit, ¿una especia exótica.
algo de todos modos, especial? Igual
andaba delicadamente por la casa, rozando los ochenta
como se roza una herida
con una gasa.
En la época de mi madre
las mujeres eran muy visibles.
Mi madre se miraba en los espejos
y yo no llegaba a abarcar
su imagen con mis ojos. Me excedía,
la intuía a lo lejos como algo que se añora.
Como ahora,
una elegía.
A la criatura adorable
fijada en lo remoto de la foto,
que ya a los ocho años parecía
más grande que la vida: te extraño,
aunque no te conocía. Eso fue antes
que a mí me dieras vida
en un tamaño apenas natural.
Igual,
una elegía.
Y a la otra de la foto que espero
conservar, la mujer bella que sostiene
el libro ante la hija de un año
en el engaño de la lectura:
te quiero por lo que dura, y es suficiente
leer en el presente, aunque se haya apagado
tu estrella.
Por ella,
una elegía.
Ahora soy la fotografía
y vos el líquido revelador. Tu muerte
me convierte en yo: como una ciencia aplicada
soy la causa y el efecto,
el ensayo y el error, este vacío
de la nada que golpea el corazón
como cáscara vacía.
Una elegía,
cada vez con más razón.
.
.
.