Múmia helenística
no auge da forma, e num túmulo hermético
se trancafiasse, coroa-de-rosas
e olor de jasmim temperando a figura.
Estéril a voz que trincasse o cristal,
vencesse o ouvido e sumisse da goela
sem antes dizer todo o bem, todo o mal,
e o núcleo de nós, tão vazio e secreto.
Histérico, enfim, o desejo de glória,
de corpo, de voz, de porquê, de remédio,
que mata de enfarte, não mata de tédio,
e quando, soberbo, possui, joga fora.
in Poesia bovina (São Paulo: É, 2014).
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sobre o autor
Érico Nogueira nasceu em Bragança Paulista, em 1979. Formado em Filosofia e doutor em Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo, com a tese "Verdade, contenda e poesia nos Idílios de Teócrito, que inclui a tradução em verso de todos os idílios hexamétricos autênticos do autor grego. É professor de língua e literatura latinas na Universidade Federal de São Paulo. Publicou O Livro de Scardanelli (2008), Dois (2010) e Poesia bovina (2014).
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