Mariano Alejandro é um poeta nascido em Buenos Aires em 1993, mas vive desde os 9 anos de idade em Portugal. Tem poemas publicados no jornal literário da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Os Fazedores de Letras, e na coletânea Sizígia, da editora CanalSonora. É ainda inédito em livro. O seu volume de estreia está previsto para 2016, com a editora portuguesa Mariposa Azual, dirigida por Helena Vieira. Os poemas abaixo são todos inéditos.
--- Ricardo Domeneck
§
POEMAS DE MARIANO ALEJANDRO
Ao pé do Arc de Triomphe a escrever minhas memórias
Com La Maga e com Cortázar a escrever suas memórias
Com um copo de tinto (o mais barato) e barbas rijas e franjas
E calças de boca-de-sino
A insultar o conformismo dos sonhadores
O apego desagradável à ferrugem do status quo
À espuma de Boris Vian
À L’Écume de um Serge e da filha Charlotte
A beleza da qual tu me falavas quando eu te dizia
Que preferia
A televisão
E não te imaginava de minissaia aos quadrados
Febril e estudantil
Empunhando a arma da palavra
Em sonetos marxistas
Escritos aos encontrões
Na escadaria de um prédio antigo
Avó ó Avó conta-me outra vez
Sobre aqueles charros que fumaste
Sentada nos jardins da Sorbonne
A discutir método e modernice
Técnicas para estropear a velhice
Aos coitados ditadores
Prostrados num trono de papel
E aos pobres parentes coxos
Sem trator só com enxada
Nem imaginavam uma outra religião
Com flores na cabeça e camisas de algodão
Desabotoadas pelo som
Da canção
This land is your land
Diziam
We shall overcome
Diziam
Mas neste canto da serra
Não se ouviam
Pelos gritos de Ultramar
Esperneavam sufocadas as crianças mendigo
À porta de mil novecentos e sessenta e oito
Tapavam os olhos com vendas para não distinguir
Croatas de Sérvios
Tutsis de Hutus
Kurdos em Kirkuk
Mas o mais difícil de tudo era distinguir
Homens de Homens
Já que ao longe todos pareciam
Cães
E as manchas de sangue
Tatuadas na pedra do Coliseu
Cantavam uma canção que ninguém quis ouvir
Dois mil anos depois ninguém quis ouvir
Pois esta terra é só para alguns
(já o sabias)
E perante a rebelião
Perdemos todos o bom senso da redenção
A casa ficou vazia
O andar também
Mas ainda bem
É feio contestar o apito do comandante
Há que deixá-lo ecoar
Pela escadaria do prédio vazio
Convidar o cassetete e deixá-lo que silve
Soyez réalistes, demandez l'impossible
§
Lunfardo
Não me ignores, che
Não me ignores, che
Olha para mim, che
Danado seja o dia
Em que me apercebi
Que um passaporte carimbado
Fala mais alto que um assalto
À mão armada
Em La Boca
Esperei por ti
Durante treze anos certos
Na esquina de Callao com Avenida Corrientes
Esperei por ti
Apanhei o 152 desde Retiro até Santa Fé
E fui a pé desde lá
E perdi-me
Treze vezes certas
Mas no fim
Valeu a pena
Vale sempre a pena
Girar na gíria porteña
Armar bardo por um pucho
Por uma cabeça
Por todo mi querer
§
As regras do pugilismo
Não te iludas,
O teu uppercutà pugilista dos anos trinta é sobrevalorizado
Os sinos dobram por aquele rapazinho no ghetto a atirar murros
À maluca
Que um dia cresceu e achou que as capacidades descritivas
De Ernesto Hemingway
Eram fracas
E que o teu uppercutà pugilista dos anos trinta
Era fraco
Mas mesmo assim,
E contra todas as probabilidades,
Ó, quem diria,
Descobriu que o alude emocional
Das neves do Kilimanjaro
Chegava
Para um knockout
.
.
.
Recordações da primavera em Paris
Com La Maga e com Cortázar a escrever suas memórias
Com um copo de tinto (o mais barato) e barbas rijas e franjas
E calças de boca-de-sino
A insultar o conformismo dos sonhadores
O apego desagradável à ferrugem do status quo
À espuma de Boris Vian
À L’Écume de um Serge e da filha Charlotte
A beleza da qual tu me falavas quando eu te dizia
Que preferia
A televisão
E não te imaginava de minissaia aos quadrados
Febril e estudantil
Empunhando a arma da palavra
Em sonetos marxistas
Escritos aos encontrões
Na escadaria de um prédio antigo
Avó ó Avó conta-me outra vez
Sobre aqueles charros que fumaste
Sentada nos jardins da Sorbonne
A discutir método e modernice
Técnicas para estropear a velhice
Aos coitados ditadores
Prostrados num trono de papel
E aos pobres parentes coxos
Sem trator só com enxada
Nem imaginavam uma outra religião
Com flores na cabeça e camisas de algodão
Desabotoadas pelo som
Da canção
This land is your land
Diziam
We shall overcome
Diziam
Mas neste canto da serra
Não se ouviam
Pelos gritos de Ultramar
Esperneavam sufocadas as crianças mendigo
À porta de mil novecentos e sessenta e oito
Tapavam os olhos com vendas para não distinguir
Croatas de Sérvios
Tutsis de Hutus
Kurdos em Kirkuk
Mas o mais difícil de tudo era distinguir
Homens de Homens
Já que ao longe todos pareciam
Cães
E as manchas de sangue
Tatuadas na pedra do Coliseu
Cantavam uma canção que ninguém quis ouvir
Dois mil anos depois ninguém quis ouvir
Pois esta terra é só para alguns
(já o sabias)
E perante a rebelião
Perdemos todos o bom senso da redenção
A casa ficou vazia
O andar também
Mas ainda bem
É feio contestar o apito do comandante
Há que deixá-lo ecoar
Pela escadaria do prédio vazio
Convidar o cassetete e deixá-lo que silve
Soyez réalistes, demandez l'impossible
§
Lunfardo
Não me ignores, che
Não me ignores, che
Olha para mim, che
Danado seja o dia
Em que me apercebi
Que um passaporte carimbado
Fala mais alto que um assalto
À mão armada
Em La Boca
Esperei por ti
Durante treze anos certos
Na esquina de Callao com Avenida Corrientes
Esperei por ti
Apanhei o 152 desde Retiro até Santa Fé
E fui a pé desde lá
E perdi-me
Treze vezes certas
Mas no fim
Valeu a pena
Vale sempre a pena
Girar na gíria porteña
Armar bardo por um pucho
Por uma cabeça
Por todo mi querer
§
As regras do pugilismo
Não te iludas,
O teu uppercutà pugilista dos anos trinta é sobrevalorizado
Os sinos dobram por aquele rapazinho no ghetto a atirar murros
À maluca
Que um dia cresceu e achou que as capacidades descritivas
De Ernesto Hemingway
Eram fracas
E que o teu uppercutà pugilista dos anos trinta
Era fraco
Mas mesmo assim,
E contra todas as probabilidades,
Ó, quem diria,
Descobriu que o alude emocional
Das neves do Kilimanjaro
Chegava
Para um knockout
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