Airas Nunes, também conhecido como Airas Nunes de Santiago, foi um clérigo e trovador galaico-português, nascido, acredita-se, em Santiago de Compostela, Galícia, por volta de 1230. Sabe-se que foi poeta na corte de Sancho IV de Castela entre 1284 e 1289. De sua autoria, sobreviveram sete cantigas de amor, três cantigas de amigo e quatro cantigas de escárnio, e sua erudição e conhecimento da poesia de seu tempo são percebidas pelas referências a cantigas de outros trovadores como Dom Dinis de Portugal, Afonso X de Castela, João Zorro e Nuno Fernandes Torneol. Airas Nunes morreu em 1289.
--- Ricardo Domeneck
§
TROVAS DE AIRAS NUNES
"Porque no mundo mengou a verdade" em gravaçãdo do trio galego Xosé Quintas Canella, Eloi Vázquez, Anxel Barbadillo.
Porque no mundo mengou a verdade,
punhei um dia de a ir buscar,
e, u por ela fui [a] preguntar,
disserom todos: - Alhur la buscade,
ca de tal guisa se foi a perder
que nom podemos en novas haver,
nem já nom anda na irmaindade.
Nos moesteiros dos frades negrados
a demandei, e disserom-m'assi:
- Nom busquedes vós a verdad'aqui,
ca muitos anos havemos passados
que nom morou nosco, per bõa fé,
[nem sabemos u ela agora x'é,]
e d'al havemos maiores coidados.
E em Cistel, u verdade soía
sempre morar, disserom-me que nom
morava i havia gram sazom,
nem frade d'i já a nom conhocia,
nem o abade outrossi, no estar,
sol nom queria que foss'i pousar,
e anda já fora d[a] abadia.
Em Santiago, seend'albergado
em mia pousada, chegarom romeus.
Preguntei-os e disserom: - Par Deus,
muito levade'lo caminh'errado!
Ca, se verdade quiserdes achar,
outro caminho convém a buscar,
ca nom sabem aqui dela mandado.
§
[Bailemos nós já todas três, ai amigas]
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
sô aquestas avelaneiras frolidas,
e quem for velida, como nós, velidas,
se amigo amar,
sô aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
sô aqueste ramo destas avelanas,
e quem for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
sô aqueste ramo destas avelanas
verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr'al nom fazemos
sô aqueste ramo frolido bailemos,
e quem bem parecer, como nós parecemos,
se amigo amar,
sô aqueste ramo, sol que nós bailemos,
verrá bailar.
.
.
.