Na série de inéditos, texto recente de Jussara Salazar.
oh santa rosa de todos os dias
as tuas paredes
teu chão de histórias e brisas
de folhas e da ferrugem dos barcos
os barcos todos que passam por teu horizonte
[e teu cais roçando leve
o cascalho das águas]
as tuas marcas
a tua pátina
e as vozes do tempo
oh santa fia que costura a terra ao mar
teus mistérios gozosos
teus mistérios dolorosos
teus mistérios gloriosos
teu cais hoje dilacerado
teu rosário antes de pretos e putas
cortado por ruas e estrelas
teu signo de salomão
tuas cinco pontas
tua linha de pedras árabes mouras
todas as linhas de teu horizonte
tapúia minha tapúia, tapúia de canindé
oh santa dos homens e das mulheres
dos trens carregados de sementes negras
derramando seus unguentos
espalhando o ouro negro de teu melaço
escuta o lamento e as loas
e no teu próximo pôr-do-sol derramai versos
sobre o chão de pedras e mato
pois não queremos te deixar
quem tem dá?
areia no mar
e esse povo que tanto chora
é pankará que vai embora
§
Sobre a autora:
Jussara Salazaré uma poeta brasileira, nascida no Recife, Pernambuco, em 1959. Publicou os livros Inscritos da Casa de Alice (1999), Baobá, Poemas de Leticia Volpi (2002), Natália (2004), Coloraurisonoros (Buenos Aires, 2008) e Carpideiras (2011). A poeta vive e trabalha em Curitiba.
.
.
.