Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, melhor conhecido como Belchior, é um compositor brasileiro, nascido em Sobral, no Ceará, a 26 de outubro de 1946. Tomou suas lições da tradição oral ibérica e brasileira, trabalhando como cantor de feira seu trobar enganosamente leu, e conhece a tradição do repente. De 1965 a 1970 apresentou-se em festivais de música no Nordeste e em 1971 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde venceu o IV Festival Universitário da MPB, com a canção "Na hora do almoço", cantada por Jorge Melo e Jorge Teles. Elis Regina levou suas canções ao grande público nacional, gravando "Mucuripe" e "Como nossos pais".
Com Alucinação (1976), Belchior consolidou sua carreira com canções como "Velha roupa colorida" e "Apenas um rapaz latino-americano", assim como outras nas vozes das maiores cantoras e cantores do seu tempo. Outros álbuns vieram, como Mote e Glosa (1974), Coração Selvagem (1977), Todos os Sentidos (1978), Era uma Vez um Homem e Seu Tempo (1979), Objeto Direto (1980), Cenas do Próximo Capítulo (1984), Elogio da Loucura (1988), Vício Elegante (1996) e Autorretrato (1999), entre outros.
Belchior no Suplemento Literário de Minas Gerais nos anos 1970
(via Ricardo Aleixo)
Com Alucinação (1976), Belchior consolidou sua carreira com canções como "Velha roupa colorida" e "Apenas um rapaz latino-americano", assim como outras nas vozes das maiores cantoras e cantores do seu tempo. Outros álbuns vieram, como Mote e Glosa (1974), Coração Selvagem (1977), Todos os Sentidos (1978), Era uma Vez um Homem e Seu Tempo (1979), Objeto Direto (1980), Cenas do Próximo Capítulo (1984), Elogio da Loucura (1988), Vício Elegante (1996) e Autorretrato (1999), entre outros.
"No Corcovado, quem abre os braços sou eu.
Copacabana, esta semana, o mar sou eu."
Estes são versos de um homem que conhece a poesia brasileira. Ouço ecos aqui do Carlos Drummond de Andrade de versos como "O mar batia em meu peito, já não batia no cais. / A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu / a cidade sou eu / sou eu a cidade / meu amor" do poema "Acontecimentos", esta é a tradição lírica brasileira que ri da própria dor, como Drummond o faz tão lindamente em "Não se mate":
"Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá."
Mas a Drummond jamais ousaríamos chamar cafona. Porque nem Belchior nem Drummond o são, ou o são, ambos cafonérrimos, apenas naquele nível em que todos nós o somos, tal qual nos avisou Fernando Pessoa naquele poema também tão cafona, ei, que todas as cartas de amor são ridículas. Mas ridículo mesmo é quem nunca cantarolou uma canção de Belchior.
"A mais que a história fez e faz o homem se destina
A ser maior que Deus por ser filho de Adão."
Afinal, quem de nós escreveu uma pedra-de-toque como esta?
--- Ricardo Domeneck
§
POEMAS DE BELCHIOR
"Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá."
Mas a Drummond jamais ousaríamos chamar cafona. Porque nem Belchior nem Drummond o são, ou o são, ambos cafonérrimos, apenas naquele nível em que todos nós o somos, tal qual nos avisou Fernando Pessoa naquele poema também tão cafona, ei, que todas as cartas de amor são ridículas. Mas ridículo mesmo é quem nunca cantarolou uma canção de Belchior.
"A mais que a história fez e faz o homem se destina
A ser maior que Deus por ser filho de Adão."
--- Ricardo Domeneck
§
POEMAS DE BELCHIOR
Paralelas
E E7/D A/C# E
Dentro do carro, sobre o trevo a cem por hora, oh! meu amor
E7/D A/C#
Só tens agora os carinhos do motor
E E7/D A/C#
E no escritório em que eu trabalho e fico rico
Am/C E
Quanto mais eu multiplico diminui o meu amor
E E° D#° E
Em cada luz de mercúrio vejo a luz do teu olhar
E E° Am/C E
Passas praças, viadutos, nem te lembras de voltar
E7/D A
De voltar, de voltar
A Eº
No Corcovado, quem abre os braços sou eu
E E7/D Am/C
Copacabana, esta semana, o mar sou eu
E F# A Am/C
Como é perversa a juventude do meu coração
E F E
Que só entende o que é cruel e o que é paixão
E E7/D A/C#
E as paralelas dos pneus n'água das ruas
E E7/D A/C#
São duas estradas nuas em que foges do que é teu
E E7/D A/C#
No apartamento, oitavo andar, abro a vidraça e grito
Am/C E
Grito quando o carro passa: teu infinito sou eu
E7/D A
Sou eu, sou eu
§
G Bm7
Se você vier me perguntar por onde andei
C G/B D7
No tempo em que você sonhava
G Bm7
De olhos abertos lhe direi
C D7 B7
Amigo eu me desesperava
Em A
Sei que assim falando pensas
D D/C G G/B
Que esse desespero é moda em 76
C A
Mas ando mesmo descontente
D G G/B
Desesperadamente eu grito em português
C A7
Mas ando mesmo descontente
D G C9 G
Desesperadamente eu grito em português
Bm7 C
Tenho 25 anos de sonho e de sangue
G/B D
E de América do Sul
G Bm7
Por força deste destino
C
Um tango argentino
D B7
Me vai bem melhor que um blues
Em A7
Sei que assim falando pensas
D D/C G G/B
Que esse desespero é moda em 76
C A
E eu quero é que esse canto torto feito faca
D G G/B
Corte a carne de vocês
C A
E eu quero é que esse canto torto feito faca
D G C9 G
Corte a carne de vocês
§
Apenas um rapaz latino-americano
E F#m7 G#m7
Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
A B7 B7/4 B7
Sem parentes importantes e vindo do interior
E F#m7
Mas trago, de cabeça, uma canção do rádio
G#m7
Em que um antigo compositor baiano me dizia
A B7/4 B7 (Bb7 na 2x)
Tudo é divino, tudo é maravilhoso (Bis)
A G#m7 A G#m7
Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas, caminhado meu caminho
A G#m7
Papo ,som dentro da noite e não tenho um amigo sequer
A B7/4 B7
E não acredite nisso, não, tudo muda e com toda razão
E F#m7 G#m7
Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
A B7 B7/4 B7
Sem parentes importantes e vindo do interior
E F#m7
Mas sei que tudo é proibido aliás, eu queria dizer
G#m7 A
Que tudo é permitido até beijar você no escuro do cinema
B7/4 B7 (Bb7 na 2x)
Quando ninguém nos vê (Bis)
A G#m7 A
Não me peça que lhe faça uma canção como se deve
G#m7 A
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
G#m7 A
Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém
B7/4 B7
Sem querer ferir ninguém
E F#m7
Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo
G#m7 A
Isso é somente uma canção, a vida, a vida realmente é diferente
B7/4 B7
Quer dizer, a vida é muito pior
E F#m7 G#m7
Eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco
A B7/4 B7
Por favor não saque a arma no "saloon" eu sou apenas um cantor
E F#m7
Mas se depois de cantar você ainda quiser me atirar
G#m7 A
Mate-me logo, à tarde, às três, que à noite tenho um compromisso
B7/4 B7 (Bb7 na 2x)
E não posso faltar por causa de você (Bis)
E F#m7 G#m7
Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
A B7 B7/4 B7
Sem parentes importantes e vindo do interior
E F#m7 G#m7
Mas sei que nada é divino, nada, nada é maravilhoso
A E
Nada, nada é sagrado, nada, nada é misterioso, não
.
.
.