Sangue Corsário (1980), curta de Carlos Reichenbach com o poeta Orlando Parolini (1936 - 1991). Leia poemas do excelente autor paulista, que ainda aguarda uma edição de sua obra completa dispersa, na postagem da Modo de Usar & Co. de outubro de 2010, com o ensaio "Orlando Parolini: o evangelho segundo o inconformismo e o desespero", de Fabiano Calixto. O ensaio é parte de nossa série "Sonda nas jazidas", buscando recuperar o trabalho de excelentes poetas brasileiros que ficaram à margem do cânone.
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Abaixo, um poema de Parolini.
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Abaixo, um poema de Parolini.
Descrição da Praça da República para a amada que mora no interior
Orlando Parolini
os lagos de tão rasos
não permitem afogamentos:
se temos fomes
não há que nos alimente
– os peixes
vivem
(de excrementos)
os pombos não nos pertencem
roubá-los será inútil por enquanto
e que valem os pombos para a fome de uma geração inteira?
sedentos
a sede aplacaremos com coca-cola
no bar mais próximo
algumas pontes o contacto estabelecem
entre o vazio e o vazio
sugerindo paisagens que não vivemos
ao meio-dia
se debruçarmos sobre as ferragens
esperando a volta para os estábulos de ar condicionado
nos chamarão de pederastas
estátuas há
que olham para as árvores
contemplando as estátuas
no grande parque infantil
de arame rodeado
crianças são treinadas
como cães de apartamento
a beber nas horas certas
urinar nos w.c.
sem sujar o uniforme
na parte mais baixa se repararmos
sem muita preocupação
agências de turismo aveludadas
casas bancárias de velhas tradições
restaurantes e cafés
lojas de créditos
rodeiam o que mais se salienta no local:
o mictório público
moralmente dividido
para homens e senhoras
não importa a condição