Antidio Cabal foi um poeta espanhol, nascido em Las Palmas de Grand Canária em 1925. Ainda muito jovem, emigrou para a Venezuela e mais tarde para a Costa Rica, em fuga da ditadura de Francisco Franco, como tantos outros poetas e intelectuais. Lecionou filosofia em universidades venezuelanas e costa-riquenhas, e passou o resto de sua vida na América Latina.
Editou e prefaciou os primeiros livros de Ernesto Cardenal (Nicarágua, 1925), assim como os Poemas Reunidos deste. Foi também o editor do livro Cemiterio privado, do poeta galego Celso Emilio Ferreiro (1912-1979), e membro fundador de algumas das editoras mais importantes da Costa Rica, nas quais dedicou-se à difusão da obra de inúmeros autores. Entre seus próprios livros, mencionamos aqui Poesía y error, Equipaje, Días, Relámpagos, Campo nublo, Junia, El espacio como lenguaje, Concierto de Isabel, Cancionero del yo, Rumor de la substancia, e Jaikus para Antidia, entre outros.
Editou e prefaciou os primeiros livros de Ernesto Cardenal (Nicarágua, 1925), assim como os Poemas Reunidos deste. Foi também o editor do livro Cemiterio privado, do poeta galego Celso Emilio Ferreiro (1912-1979), e membro fundador de algumas das editoras mais importantes da Costa Rica, nas quais dedicou-se à difusão da obra de inúmeros autores. Entre seus próprios livros, mencionamos aqui Poesía y error, Equipaje, Días, Relámpagos, Campo nublo, Junia, El espacio como lenguaje, Concierto de Isabel, Cancionero del yo, Rumor de la substancia, e Jaikus para Antidia, entre outros.
Os poemas abaixo foram extraídos de seu livro póstumo Epitafios (Barcelona: Kriller71 Ediciones, 2013), uma das melhores coisas que li nos últimos tempos.
--- Ricardo Domeneck
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POEMAS DE ANTIDIO CABAL
extraídos de Epitafios (Barcelona: Kriller71 Ediciones, 2013)
Epitáfio de Efigenio Gomiá, vulgo O Semicompleto
Aqui jaz um idiota maravilhoso,
acreditou que haver nascido fosse um êxito.
Não ponham flores em seu túmulo.
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Epitáfio de A.G., a Mulher da Penumbra
Eu, Amélia Garcia, aos dezessete anos
casei-me com um homem com sombra,
fugindo de pais que tinham sombra,
e de sombra em sombra cheguei à melhor de todas.
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Epitáfio de Tomás Elías, vulgo O Doutor
Aqui jaz um acadêmico cuja saberdoria
o levou a cultivar a ignorância
baseando-se no conhecimento.
Passante, não ponhas flores em seu túmulo,
ele não as entenderia.
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Epitáfio de Indalecio Xunto, vulgo O Total
Chamavam-me de Deus porque eu não tinha forma, era gordo, pensei que Deus me havia feito gordo por ter me escolhido.
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Epitáfio de Réndez Merodes, vulgo O Vigilante
Espero que esta seja a última vez que morro,
que não me coloquem de novo, com sangue, em outra fase da matéria
e me façam chorar em outro local,
eu quero que esta morte me seja de serventia para sempre.
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Epitáfio de Luis Calvo, vulgo O Suficiente
Aqui se encontra sob a terra um sábio
cuja esterilidade produziu muito.
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Epitáfio de Ramón Suelo, vulgo O Calado
Quando nasci, estava incompleto, faltava-me a morte.
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Epitáfio de Jimeno Jiménez, vulgo O Desequipado
Aqui jaz
aquele que viveu carente de si mesmo,
esqueceu-se de comprar um cão.
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Epitáfio de Carlos Sanchez, vulgo O Limitado
Do que aqui jaz,
só a morte encontrou a utilidade.
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Epitáfio para Jacinto Modales, vulgo O Botas
Vivi lutando contra a gordura e a ontologia,
agora tudo está no caixão.
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Epitáfio do vigário Trústegui, vulgo O Sabichão
Antes eu queria ser eu,
agora ser me dá na mesma.
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Epitáfio de Ramón Ramonense, vulgo O Igual
Sinto falta de não ter nascido.
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Epitáfio de Clarisa Méndez, vulgo A Raíz
Sempre há saída para tudo, menos para o que somos.
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Epitáfio de Gabino Suárez, vulgo O Conselho
Nascer, existir, morrer,
já sei como se divide
o nada por três.
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Epitáfio de Luis Puente, vulgo O Rato
Sepultado nessa terra atmosférica e produtiva, enfim dela desfruto,
enfiado num caixão feito de uma árvore dourada,
que é como uma biografia, pois eu a plantei,
recebo a chuva e os ingredientes do céu,
os conteúdos das quatro estações,
pela lápide infiltra-se o cheiro do antúrio,
escorre o orvalho até meu submundo,
o dom calefaciente do sol aquece meu substrato arenoso,
aqui tudo é suficiente.
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Epitáfio de Creencio Álvarez, vulgo O Dentro
O caixão me dói menos que o berço.
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Epitáfio de Seremo Cruz, vulgo O Norte
A nós deveriam fazer-nos natimortos.
Antidio Cabal (1925-2012)
in Epitafios, Barcelona: Kriller71 Ediciones, 2014.
Traduções de Ricardo Domeneck.
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