Italo Diblasi em retrato feito por Adelaide Ivánova
TRÊS ESTUDOS SOBRE O CIO (1/3)
Italo Diblasi
Havia um ano e meio não
lhe tocava o corpo. Um ano
e meio não lhe mordia
os lábios. Um ano e meio.
São questões: já não saber
se te esmurro a cara ou
se te beijo a face.
Estou dormindo e me dou conta
de que estou dormindo.
Sonho e me dou conta
de que estou sonhando.
Desperto e é noite. Pondero
o tempo - arpão enferrujado.
Pondero a distância - baleia veloz.
Um diastema: lacuna ou espaço
existente entre dois dentes.
É possível medir a distância
entre dois dentes até mesmo
com um palito. A distância
entre dois corpos é calculada
em metros ou em centímetros.
Já a distância relativa
do tempo - é complicada
por exemplo:
Um ano e meio contém
13128 horas. 13128 horas
equivalem a 787680 minutos,
que também se deixam medir
em segundos. Medida duvidosa,
os segundos. São cruéis,
escapam assim ___________.
É impossível detê-los. Pondero
a saudade - queimadura suave.
Estou contando e me dou conta
de que estou contando. Adormeço.
Havia 47260800 segundos não
lhe tocava o corpo. 47260800
segundos não lhe mordia os lábios.
São questões: a passagem do tempo,
a memória, que é sempre como
um poço de sombras delicadas.
Isso para não falar das mudanças.
Se pensadas com o tempo,
são relativas, as mudanças
por exemplo:
Todas as células dos lábios
de um ser humano são trocadas
a cada seis meses. É da natureza
das coisas. O atravessamento.
Estou falando dos seus lábios
e me dou conta de que estou
falando deles. Pondero
o corpo - mapa enganoso.
todas as células de um corpo humano
são trocadas a cada três anos.
Isso significa que algo se salva.
Como uma temporada de inverno.
São atravessáveis, as temporadas,
como são relativas, as mudanças
por exemplo:
Havia um ano e meio não
lhe tocava o corpo. Um ano
e meio não lhe beijava os lábios.
ontem toquei-lhe o corpo
e beijei-lhe os lábios.
Os lábios de ontem já eram outros.
O corpo, não.
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sobre o autor
Italo Diblasié um poeta brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 1988. Estreou com o volume O Limite da Navalha (2016). Há um ensaio sobre seu livro de estreia na revista Garupa.
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