Série "As enterradas vivas": Érica Zíngano escreve sobre Dora Barcelos

Esta postagem da série "As enterradas vivas", com texto de Érica Zíngano em homenagem a Dora Barcelos, pede uma pequena introdução. No dia 1° de junho de 2016 completavam-se 40 anos do suicídio de Dora Barcelos (1945-1976) em Berlim. Naquele dia, Adelaide Ivánova, Érica Zíngano, Rafael Mantovani e eu conduzimos um pequeno ritual em Berlim, um pequenino tributo em memória da brasileira, que tomou a própria vida na Berlim Ocidental a 1° de junho de 1976.

Como já escrevi aqui na ocasião, Dora Barcelos foi integrante da VAR-Palmares e presa em novembro de 1969. Brutalmente torturada até ser libertada entre os 70 presos políticos trocados pelo Embaixador da Suíça no Brasil, Giovanni Bucher, em 1971, ela deixou o país. Depois de exilar-se no Chile, seguiu por alguns países após a queda de Allende, fixando residência na Berlim Ocidental em 1974. Sem passaporte, com dificuldades de conseguir o asilo no país, marcada pela tortura, Dora Lara Barcelos jogou-se diante de um trem na estação de Charlottenburg naquele 1° de junho de 1976.

O texto de Érica Zíngano, costurando linhas em português, alemão e inglês, parte de sua pesquisa sobre os procedimentos burocráticos alemães caso quiséssemos requisitar uma placa em homenagem a Dora Barcelos no local. A partir de uma colagem das pesquisas que a autora fez em páginas de busca, ela traça um mosaico de línguas em torno da elegia e da linguagem burocrática tantas vezes usada nestas ocasiões, invocando ainda figuras como Walter Benjamin e Olga Benário.

O vídeo foi gravado em novembro de 2016. A performance, com Érica Zígano ao lado dos poetas brasileiros Luísa Nóbrega e Rafael Mantovani, foi apresentada no Instituto Cervantes durante o festival Stadtsprachen, que buscava unir e apresentar aos berlinenses as cenas literárias de língua estrangeira tão ativas na capital alemã. Ao vídeo segue o texto. 

 



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