Na série de inéditos, um texto de André Capilé.
sentou-se entre a fumaça e os edifícios lembrando-se dos bois a meio pasto
(à espera da ração em seus currais
havia paz em cada gesto impresso
naquela cainçalha sem remédio
no mijo que explodia do silêncio)
da nata azeda na fuligem a história repetia só por hábito a vasca minúcia das inchas
(à cura de um desvio pelo reto
a bile de um pintor que se recusa
a pilhar dos entulhos de seus mortos
cabeças estacadas nessa guerra )
houvesse um dia em que a fúria não encontrasse o intestino berrando as rotas de fuga
como o ronco de um suíno ao confrontar o porrete na marca de seu destino olhai
por cima da beleza a voz da sova ouvi um grito só e a firma cai da foice
nada mais faz diferença se teu cabelo é um ninho nos dedos da ofensa
doando infernos na posse de um pincel que emplastra sua cara limpa no retrato
§
§
sobre o autor
sobre o autor
André Capilé nasceu na margem mansa do Sul Fluminense em 1978; residiu em Juiz de Fora - MG, onde se graduou em Filosofia pela UFJF, em 2009. Cofundador e ex-organizador do ECO - Performances Poéticas, também é parceiro de ações do site TextoTerritório. Publicou, em conjunto com Carolina Barreto, o livro de poesia Dois (Não Pares), no ano de 2008; e a plaquete ZANGARREIO, em 2011. Mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, onde cursa, atualmente, doutorado. Seu último livro chama-se Muimbu (Macondo, 2017).
.
.
.