Charco (2014), vídeo de Philippe Wollney.
Charco
o dia encharcado de
desejos, na frialdade
que afasta brotoejas
mas aninha percevejos
onde Eros depositou
um colar de artérias
a pulsar na disritmia
de Coltrane em litúrgica
síncope de louco de tesão
a porta arrebentada pelo
vento, ou que arrebata
por uma torrente de ar
desnudo e liberto – mas
não há cachecol que
me proteja da frieza
de teus beijos de azuis
de um unicórnio sedutor
como uma canção da Sosa.
usei todos os panos de
chão, lençóis, toalhas
de mesa e banho, roupas
e panos de pratos mas
foi impossível absorver
teu mar pluviométrico
de um ser/tão ressacado
língua de rocha e sede
de coração maduro que
cai no quintal do bandido
alagado, inundado
dilúvio de mim
meus olhos guardados num aquário
açude no lençol
as correntezas do rio como ponteiros do tempo
com as a~n~g~ú~s~t~i~a~s
de uma língua sedimentada no lodo
d’um lago passageiro de paisagem
de águas rasas que quando seca
fica a mostra uma nova paragem
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sobre o autor
Philippe Wollney, com seu livro Poemas de um eu cretino (2014)
Philippe Wollneyé um poeta contemporâneo brasileiro, nascido na cidade de Goiana, Pernambuco, em 1987. Lançou o livro Poemas de um eu cretino (2014). Tem poemas publicados em antologias como Antologia Poética Goiana Revisitada (Silêncio Interrompido, 2012) e Cem Poetas Sem Livros (2009). Publica trabalhos ainda pelo selo Porta Aberta.
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